quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O inimigo (in)comum

1. Quando, quanto falta, mais quantos dias, quantos anos, quantas horas vai demorar para acordarmos deste sono interminável, onde sonhamos com uma a falsa tranquilidade, falsa moralidade, que nos deixa descansados e de mente tranquila, ao pensar que os contaminados são eles e nós somos nós, são culpados e nós inocentes, são pessoas que meteram-se em caminhos escuros e nós sabemos nos controlar, não tiveram escrúpulos e nós as pessoas moralmente irrepreensiveis, eles são gente sem moral e sem continência e nós gente sóbria, eles são gente desregrada e nós gente de princípios, gente que se deixou levar por dinheiro ou por alguma outra benesse aos prazeres voluptuosos da carne e nós gente de uma hierarquisação axiológica elevada.

2. Quando vamos acordar do nosso mediocre moralismo baseado no facto de que a via sexual seja a mais normal de contágio? ... e depois??? Que que isso tem??? As pessoas têm o livre arbítrio, podem escolher, mas o que é verdadeiro é que jamais escolheriam a contaminação. Então o que falta? Se as pessoas não ecolheriam estar contaminadas porque esta escala crescente de contaminações? Todos nós sabemos da resposta a esta pergunta, mas não queremos dar-mo-nos de frente com ela. A resposta 'simplexa', simples (porque não precisamos de 'doutorices' para diagnósticar que não temos feito o suficiente) e complexa (porque o que precisamos fazer para ser o suficiente precisa a conjugação de todos). Falta a acção conjunta, a luta conjugada de todos Governo, eu , tu, igrejas, todos e todos juntos. As pessoas devem ‘perceber’ os comportamentos de risco, eu disse ‘perceber’, não é que temos de fazer campanhas de sensibilização e informar, não, isto não basta, temos de ter a capacidade de fazer-nos ouvir, sermos percebidos e para isso precisamos chegar a lingua das pessoas, não apenas a língua, mas também a linguagem para que nos percebam.
Os angolanos, os africanos, os humanos devem ‘perceber’ o que é HIV/Sida, o que significa, qual o grau de perigosidade, tanto para as famílias, como para o país, para o continente e para a espécie.

3. Pessoalmente, penso que as cifras oficialmente publicadas de sero-prevalência são subestimadas (em relação a Angola), este é um obús contra a nossa propria trincheira, temos outras armas que estamos a apontar contra a nossa propria trincheira, como é o caso da abertura das nossas estradas e vias de comunicação. É isso mesmo estou a dizer que o nosso progresso poderá em relação ao nosso combate contra o HIV/SIDA combater do lado do inimigo se não tomarmos as devidas cautelas. Essas estradas que todos aplaudimos, que nos ligam o país e fazem-nos cada vez mais ‘um só Povo e uma só Nação’, também são elas que serão o veículo de transmissão do nosso inimigo as nossas aldeias e vilas. O CAN, sei que muita gente não tem a minha opinião, mas também não devem pensar como eu, que cogitando com os meus botões começo a pensar, o CAN 2010 vai provocar a estimulação de vários sectores do nosso país: o económico, o desportivo, o hoteleiro, cultural, social, etc. Porém em relação a nosso inimigo penso que também vai estimular, vai gerar um maior movimento de populações quer do país quer dos países vizinhos sobretudo, o que se nossas medidas de prevenção falharem, de certeza nossos índices poderão subir assustadoramente, num período bastante curto.

4. Está na hora de mudarmos de atitude porque, o nosso vizinho, o nosso irmão, o apresentador de televisão do programa que mais gosto, o galã de novela, o empresário de sucesso, a vizinha da casa branca e seus filhos mais pequenos, o nosso chefe de serviço, estamos contaminados. A humanidade está contaminada, não importa a percentagem, o que importa sim é que se evitem novos contágios, e que os cantamidados tenham acesso ao apoio médico, medicamentoso, social, familiar, cultural, religioso, psicológicos necessários para ter uma vida positiva NORMAL, tal como temos os contaminados de gripes, varicelas, sarampos ou qualquer outra infecção viral.
Pensem nisso.

Zancottentura
01.12.2008

1 comentário:

strawberryfairy disse...

Gostei do neologismo " simplexa"